domingo, 28 de fevereiro de 2010

Residência( experiência imersiva) no pedregulho(minhocã o do São Cristovão) Rio de Janeiro começo da zona norte, pela Frente3defevereiro

O prédio. Uma onda quase um S na encosta de um pedregulho no alto do bairro de São Cristovão, nas costas dos morros do Tuiutí e da Mangueira. Nesses 25 dias que ali fiquei convívio-confidentes com Regina, Mariana,Sabrina, Cláudio,Renatã o, Maria, Né, Bel e outro(a)s tant(a)os. Percebia as crianças presentes em todas as partes e horários, queridas e amadas, mas que seriam perfeitamente dispensáveis ;Para os adultos aproveitarem melhor a roda de papo tomando cerveja, o fazer cabelo e unha ,ou simplesmente liberdade para hora em que eles falam e riem-se de todos os outros conhecidos vizinhos, vivos ou mortos, próximos ou distantes. As crianças são cuidadas por quem esta mais perto e aí morre o perigo. O corredor é o espaço do convívio mais estreito, as portas estando abertas é sinal de que o morador esta disposto a bater papo, sempre há uma ou outra porta aberta e alguém sentado dolado de fora. Avôs aposentados ou algo parecido, arrimos de família. O calor libidiniza os assuntos o sacolé custa de 20 a 50 centavos e está sempre a refrescar quem o chupa, isso faz do corredor um ventilado ponto refrescante onde tudo se conversa. E que vocação ao bate papo que tem o carioca, eles falam muito, o tempo todo, sobre tudo as vezes não conseguia entender o que estava sendo dito , e tenho a impressão que nem mesmo eles o sabiam ,mais mantinham essa prosa louca e minimal, mais por necessidade de um bem estar dentro de seus antigos hábitos do que algum questionamento ou construção de razão transgressora.

O mais enriquecedor desta brincadeira foi sentir-se acuado por um sotaque diferente hegemonicamente absoluto, donde muitas vezes (eu que muito falo) me via obrigado a exercer a audição me calando por sequências inteiras de momentos. E para minha grata surpresa em outras situações ser acolhido e requisitado ( Em muitos momentos as pessoas achavam que me conheciam ou diziam ter a impressão que já haviam convivido comigo há muito tempo).

Volto assim com uma certeza, se Euclides da Cunha disse: O sertanejo é um forte. Amplio essa força e esse sertão a outras paisagens do nosso Brasilzão.

Difícil é a vida no Rio, pouca grana, aluguel caro, serviços fundamentais que se fecham cedo, medo de bala perdida, no morro a população desproporcionalment e “preta” ; mas o sorrizão ali presente, a disposição ao bate papo, o suingue dos quadris que rebolam até mesmo quando se sobe o morro carregando peso, a alegre malemolência de cachorros que levam a carroçinha divina aos céus após terem capturado o cão para no paraíso virar sabão, que se encontrava escondido num baile funk proibidão.



Sobre o morro Santa Marta



Oitocentos e cinquenta degraus na direção do suvaco esquerdo do Cristo. Adorei aquele elevador, quando você chega lá no alto na sua ultima parada, a brisa é mais revigoradora do que a visão, do Cristo, da lagoa ou da Baía, na parte mais alta do morro a antiga escola que hoje é a base da polícia pacificadora , alibans com uma puta vontade de serem “Americanos”. O visual do alto é enlouquecedor, o Cristo, a mata, os bairros nobres no pé do morro, as águas, o muro e a favela.

A favela vista do alta e de dentro, leva-nos a pensar: Quem esse cristo protege ou favorece? Embora haja algumas casas feitas pelo PAC, outra feita pelo Luciano HulK, passarelas e postos de coleta seletiva de lixo, o colorido acinzentado da pobreza ainda é muito forte. Não se vê armas (só com os policiais) e nem uso/tráfico aberto de drogas, e isso me parece algo bom. Mas ainda vemos barracos sem janela, uma água suspeita que escorre da parte mais alta, muito lixo, pessoas fazendo nada e muitas crianças.

Por todos os lados crianças regidas pela sinfonia do ócio e do mínimo cuidado, que nos revelam que mesmo estando matriculadas não conseguem ler e escrever. Crianças que são cuidado de todos, de quem estiver mais perto, sorridentes , lépidas,falantes e serelepes; mas também com a pele manchada.

A primeira vez que subimos no Santa Marta ou Dona Marta? Até agora não entendi. As crianças e o seu Armando (couro seco) pinguço oficial do morro nos receberam , fomos até a quadra, até os barracos mais insólitos no alto do morro acompanhamos o traçado do muro por alguns metros,onde com que seu Armando o tempo todo lembrava o perigo das cobras ( que segundo ele e outros moradores do morro enfestaram o lugar despois das obras).

O desenho do buraco no muro, a poética irtervenção das pipas a luta de capoeira dos meninos de afrofuturismo. Todos esses momentos foram uma maneira sutil de especular e fazer parte daquele lugar por alguns instantes, porém o que mais me entorpeceu ali, foram os olhos, sempre os olhos foram algo que me perseguem e eu reciprocamente eles desde minha mais tenra fase. Os olhos daquelas crianças dizem o inevitável que mem elas mesmas sabem mas imaginam. Que só será redimido se alguma perspectiva for ali nelas introduzida. Os olhos do Armando couro seco, seguidos de uma voz ébrio-psicótica a dizer que todo negro de São Paulo é seu primo e filho do Pelé, sendo assim rico. Seguido de um ímpeto sacro-profano (na segunda vez que nos vimos)gritando que São Pedro é F.d.P. por inundar São Paulo e deixar o Rio Tão quente seco por tantos dias, senti nele ali naquele momento a força trágica que não há mais no teatro atual.

Mas foi na procissão para o padroeira da cidade São Sebastião que tive os momentos mais emocionantes da minha incursão no Dona Marta, um reizado que desce o morro todo ano, que maquele momento desceria sem o palhaço, pois o mestre havia morrido algumas semanas antes. Uma comoção de luto, as pessoas cantavam, andavam e choravam com S. Sebastião a’ frente atravessando até os fundos de um ensaio de escola de samba sem que uma coisa atrapalhasse a outra, esse santo bonito, martirizado com ar de lascívia e desejo homoafetuoso, que é posição sexual, padroeiro de causas e amores escusos, canibalizado por Mishima no Japão quase feudal da segunda guerra mundial. Saravá Rio, Saravá São Sebastião e que os muros não sejam capazes de apartar possibilidades de encontros, trocas e amores, para que a sociedade brasileira se transforme e avance.

Pedro Guimarães

Residência( experiência imersiva) no pedregulho(minhocã o do São Cristovão) Rio de Janeiro começo da zona norte, pela Frente 3 de Fevereiro.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

HAITI AQUI - pintura da bola

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

HAITI AQUI - Ação Monobloco

HAITI AQUI - Investigação Ação em Processo from daniel lima on Vimeo.

MÚSICA: FRENTE 3 DE FEVEREIRO

Cenas do Processo Pedregulho









Fotos: Cris Ribas

Ação HAITI AQUI - Monobloco






Fotos: Marcelo Wasen

HAITI AQUI finalizando o Carnaval



Desfile do Monobloco, 500mil pessoas pulando, dançando, se encoxando, num calor danado. O HAITI AQUI cai em cima da cabeças depois de muita espera (paciência ninja da equipe da bola!). Outra equipe no quadragêsimo andar, na cobertura do prédio mais alto da avenida, mira a câmera como um franco atirador. A galera vai a loucura. As mãos buscam a esfera globo girando, girando, girando sem parar, quase sem sair do lugar. Rolou uns 10 minutos e depois saiu pelo Largo da Carioca. Volta passados alguns segundos de ansiedade. Já meio murcha, começa a ser espancada pelos pitboys de plantão. Forma-se uma roda como num linxamento. "Tão batendo no Haiti!" alguém grita. "Tão matando o Haiti"! Esperamos a energia esvaziar... a bola murchar... e resgatamos nosso planeta com rasgo do tamanho do Haiti.

Foto: Cris Ribas

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

HAITI AQUI em IPANEMA no CARNAVAL!!!













HAITI AQUI no CARNAVAL!!!





sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tensão

Após planejarmos a ação na Av. Rio Branco, seguimos para comer no Cadeg, do lado do Pedregulho. 6 pessoas em um Gol. Ao fazer a curva para pegar o retorno na Av. Brasil, passando pela Favela Parque Alegria, um cara avança para o meio da rua, na nossa frente e aponta uma arma com convicção. Em uma fração de segundo nosso carro freia e acelera. Adrenalina. "Abaixa"! De repente era como se só houvesse o motorista no carro. Por sorte, não se ouviu nenhum tiro. Mas o ônibus de trás foi parado. Rio 40 graus.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Imaginações...



HAITI AQUI?


Amigos,

a investigação-ação do Carnaval tá sendo encaminhada para uma opção para além da bandeira.
pensamos aqui, numa esfera inflável de 3 metros de diâmetro com a pintura do globo terreste e o escrito HAITI AQUI ou HAITI AQUI ?
com este objeto disparador poderíamos fazer várias ações no Carnaval do Rio: a esfera flutuando no mar como se a ilha estivesse a chegar no Rio; na praia com a multidão, a flutuando na multidão nos blocos de carnaval e finalmente no Sambóbromo (na área da concentração, onde poderíamos ter uma credencial de impressa).
no processo...

abr
dcfl

Muro, pipas e sol

Amigos,

estamos na reta final desta residência.
ontem fizemos mais uma investigação-ação na comunidade da Santa Marta. elaboramos uma ação com pipas. nas nossas visitas percebemos que tem enorme quantidade de jovens, crianças e adultos que passam horas no sol de rachar, no disputa de "bigodar". a idéia era fazer uma instalação de pipas no muro. a imagem de uma sequência de pipas amarradas no muros como se estivem a levar o muro com o vento. compramos 30 pipas e, coordenados pelo Esquilo (grande especialista em pipas do Afrofuturismo) fomos a Arena, uma das quadras bem ao lado do muro, para erguer as pipas e criar a instalação. divertida tentativa. a pipa sem cerol subia e surgia outra no céu a buscar "bigodar" a nosso indefeso "pião". combinamos, então com as crianças da comunidade, uma proteção com outras pipas, uma turma de "contenção". "Quem é o melhor do morro no pião? O Biscoito!". O Biscoito chegou com seu 11 anos de experiência de vida e muita disposição. Deu show Biscoito e Magrão! E é claro o Esquilo!
ao final tinha uma galera na arena e céu cheio de pipas. uma feliz confusão sob 40 graus. no lugar de uma instalação realizamos uma situação vivencial.

uma prática lúdica que, devidamente planejada, pode ser uma grande atividade pedagógica, um disparador para mobilização e diálogo com a comunidade.

abr
dcfl