quinta-feira, 26 de junho de 2008

Julieta nos revela um caminho...

Hospedada no mesmo hotel que nós, estava Julieta Massimbe. Diretora do Museu Nacional de Arte de Moçambique, Julieta participou do mesmo evento sobre arte pública no Goethe. Simpática, polida e muito atenta, Julieta nos concedeu uma entrevista. Falamos sobre a história da imigração do povo moçambicano para a África do Sul, que se inicia no século XIX com a descoberta do ouro na região de Johannesburg. Historiadora de formação, Julieta nos revelou caminhos interessantes sobre o passado desta parte do continente... e uma luz que foi fundamental a nossa ação em solo africano:
Moçambique, assim como Zimbábue, tem uma área de reserva natural que faz fronteira com a África do Sul. Isto porque perceberam que os animais no seu processo natural de migração, atravessam as fronteiras dos países. Os animais movimentavam-se a milhares de anos entre estas terras e, assim tinha que ser, no seu fluxo natural, para que pudessem sobreviver...

“Estudando até melhor as questões ligadas à nossa região da áfrica austral e voltando um bocadinho também para a história, eu muitas vezes analiso toda essa questão como todo o movimento que anteriormente era feito por estas comunidades. Porque se forem ver mesmo, estudando a questão das etnias que existem em Moçambique e nos países à volta, podem ver que há, nas zonas de fronteira - porque são fronteiras artificiais feitas durante o período colonial - populações que pertencem às mesmas etnias nas diferentes fronteiras. Então, aqueles eram movimentos já normais daquelas etnias. Inclusive a dos próprios animais. E há locais que, neste momento, estão a ter que ser abertos para os animais… Foram feitas casas, projetos, mas os animais, por causa da sua migração normal, voltam a passar por lá. E então o homem fica espantado e diz “olha, aquele nosso projeto ficou estragado”. Mas era a migração normal dos animais que tinham que passar por aquela zona, aquelas migrações anteriores, destes povos. Mas, com o desenvolvimento, nós teremos que procurar provavelmente integrar também estas questões culturais com as questões econômicas. E creio que arranjaremos as melhores soluções de todos os nossos problemas na nossa região austral da áfrica.”

...

ViewThursday, June 26, 2008

Querida Maurinette e amigos da Frente 3 de Fevereiro

Espero que continuem usufruindo das magnificas experiencias na Africa do Sul.
Fiz Boa Viagem e, consegui almocar com a Familia ontem.
Aqui no meu pedaco de terra esta tudo bem.
Tenho muitas saudades de voces e dos bons momentos que passamos durante o Symposium.
Ao receber o email de agradecimento do Peter nao resisti em reagir de imedito, antes que os animos arrefecam.
Querida Mamae 3 de Fevereiro foi com muita admiracao que ouvi e escutei as suas observacoes e apreciacoes maduras e inteligentes. Recebi uma verdadeira licao de aprendizagem da vida, do Mundo e das coisas comuns.
Convosco meus irmaos pretendo continuar a dialogar e trocar impressoes sobre assuntos que nos interessem nas diferentes esferas do conhecimento.
Quero sempre partilhar convosco, por isso estou e estarei sempre pronta a comunicar convosco.
Com muito carinho e a boa maneira Mocambicana KHANIMAMBO = Muito Obrigado.
Um abraco do tamanho da AFRICA (por enquanto), se nos correspondermos ele aumentara e sera do tamanho do MUNDO, tal como ZUMBI SOMOS NOS.
Da amiga que muito vos admira

Julieta Massimbe

From: Zion

From: Zion
Date: June 25, 2008 10:11 PM
Honerable might daniel.como estais? E a familia ao teu aredor?aqui e o jah zion,apenas quero dar um alo ai pra malta toda.espero q tiveram un dia.cheio d paz e sucesso.realmente foi un prazer d vos conhecer,so espero q agente pode se encontrar mais uma ou mais vezes para trocar algumas expressoes,estou muito contente d saber q o espirito de zumbi vive enternamente,brothers

Zumbi Somos Nós no Drill Hall

Ha! Que progresso!
Dois dias intensos de programação no simpósio sobre arte pública promovido pelo Goethe Institut, onde se reuniram participantes de vários países do continente africano e alguns representantes da Alemanha e, nós, do Brasil.
Assuntos e exposição de trabalhos que tem muito em comum com a nossa realidade. Questões como: um porcento do orçamento destinado à cultura; programas verticais implantados pelos governantes; respostas de coletivos um tanto quanto ácidas; e por ai vai... Muitos contatos, muito cansaço e expectativa para a apresentação do nosso documentário.
Na posição delicada de ser o último na programação e, ainda, estar num espaço no centrão de Joburg, nos colocava a dúvida de um quórum para a apresentação do nosso trabalho. Feliz engano! Os participantes do simpósio, alguns freqüentadores do espaço e amigos que fizemos estes dias nos vai e vem nas ruas de Joburg, encheram a sala de apreensão do que vinha do outro lado do atlântico. Curiosidade e abertura para troca fizeram o cansaço passar longe daquela sala.
Depois de uma breve introdução com uma problemática tradução – experiência a apreender: trazer o texto introdutório já escrito em inglês - o som do berimbau do Mestre Dinho soou tão forte que reverberou silêncio no público. Xangô estava presente na entoação da Dofona. Roberta já é pop por estas bandas. E nunca teve tanto sentido as palavras porretas deste mestre Gaspar:
Lágrimas nos olhos em cantar junto Periafricania,
Somos filhos de uma terra sagrada,
Qualquer periferia,
Qualquer quebrada e um pedaço da África,
Zafricania, salve profeta, um hino para um povo só!
E... Ha! Que progresso!
Risos de identificação com o Frei David, a estória é a mesma dos dois lados deste enorme oceano. Passou rápido os 52 minutos de apresentação. Mesmo a organização do evento não esperando muitas perguntas, foi surpreendida. Vários braços erguidos com questões na ponta língua. Bateu forte. A impressão é que estávamos trazendo notícias, fotos de uma parte da família que está distante. Afinal, as informações que a aqui chegam são superficiais.
Questões como: o racismo da polícia não é apenas com os traficantes? Vocês não correm risco de vida fazendo este trabalho?
Surpresa, identificação, vontade de estreitar as relações... Zumbi Somos Nós foi uma única voz naquele fórum de Orixás que nos receberam!
Comunhão após a apresentação com todos comendo um jantar oferecido pelos integrantes do Drill Hall. Uma sala humilde, várias pessoas sentadas no chão, em torno de farta e deliciosa comida africana, humildemente oferecida a nós.
Ha! Que progresso!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Texto de Introdução da Exibição do "Zumbi Somos Nós" - Arte Pública como ativação da Vida Pública




Johannesburg, 24 de Junho de 2008

Aqui estão Fernando Coster, Julio Docjar, Maurinete Lima e eu, Daniel Lima, para apresentar o trabalho da Frente 3 de Fevereiro. Somos 4 de um grupo de 21 pessoas que trabalham com artes visuais, música, cinema, vídeo, teatro, geografia, antropologia, sociologia, direito e educação. Juntos no dedicamos a pesquisa, criação e reflexão em torno de questões raciais. Há quatro anos desenvolvemos trabalhos artísticos que usam diferentes linguagens e suportes passando por vídeo, texto, música e live performances.

Antes de continuar, gostaríamos de agradecer o convite do Goethe Institut e, principalmente, ao Peter pela oportunidade de estar aqui.

Propormos, neste encontro, uma reflexão conjunta. E, como ponto de partida, assumimos a linguagem audiovisual. Acreditamos ser esta a melhor maneira de mostrar o que somos e como pensamos Arte Pública. Por isso, propomos a exibição do filme “Zumbi Somos Nós” e na seqüência uma discussão.

Este filme tem 52 minutos. Agradecemos imensamente o tempo disponibilizado por todos aqui, num evento que tem o tempo tão limitado.

O filme foi feito entre 2004 e 2007. Fruto de um edital de uma emissora de televisão pública, o filme foi realizado juntamente com o livro “Zumbi Somos Nós – Cartografia do Racismo para o Jovem Urbano” num mesmo processo de pesquisa e criação. Dirigido por 20 integrantes, que na época compunham o grupo, o filme foi transmitido em cadeia televisiva nacional. Inscrito como documentário, hoje entendemos esta obra como um manifesto poético.

...

Antes de iniciar, deixo uma breve reflexão sobre como entendemos Arte Pública.

Para nós, Arte Pública, significa ativação do espaço público. E o que é o espaço público numa cidade como São Paulo, onde mais de 18 milhões de habitantes vivem e trabalham? Nesta cidade, mais 70% do espaço urbano tem carência de algum tipo de infra-estrutura (água, esgoto, eletricidade, habitação, educação, transporte e lazer).

Koyo colocou, ontem, que no contexto de algumas cidades africanas o espaço público é do governo. Na realidade de muitas cidades brasileiras, o espaço público, em grande parte, é de ninguém.

Para lidar com esta realidade, esculturas e objetos de arte, em si mesmos, não têm a capacidade de gerar uma reorganização positiva em favor da apropriação do espaço público pelo indivíduo. Ou seja, monumentos públicos não tem condições no mundo contemporâneo de gerar movimentações de mudança na nossa forma de se relacionar com a cidade.

Podemos, a partir deste ponto, ir um pouco mais longe com o conceito de “espaço público” para um outro: “vida pública”. E para nós, “vida pública” significa uma noção ampla do que compõe o espaço de manifestações públicas. Neste campo, se constrói a imagem do que somos como sociedade. Assim entendido, este campo inclui o espaço público urbano, mas também, a mídia e seus diversos suportes, a reflexão acadêmica, a internet, e várias outras manifestações sociais.

Neste campo aberto/fechado da vida pública, para nós, o desafio é encontrar caminhos poéticos que possam gerar possibilidades de estabelecer novas formas de relação entre o indivíduo e sua própria representação.

Afinal, na auto-representação reside a possibilidade de resistência simbólica contra toda força violenta de construção de “mundos-desejos” e da vida “auto-confinada” que, em última instância, nos distancia da descoberta coletiva do que realmente somos como sociedade.

Frente 3 de Fevereiro

terça-feira, 24 de junho de 2008

Áfricas

Muito bom ! A qualidade das imagens e informações no blog.

Lendo o mesmo começo a pensar de como conflitos antigos existentes pelo fato de deslocamento dentro do continente Africano, tomam uma nova "cara" a partir, de sociedades que por mais pobres que estejam se encontram modeladas de acordo com os parâmetros do modelo ocidental de bem viver e consumo. Como isso os torna sociedades frageis, no sentido de serem criticadas como bárbaros que não vão conseguir se livrar dos seus conflitos tribais, sendo assim condenados a este interminável estado de sofrimento. Pois negros não conseguem se entender entre si.

Armadilha perigosissima! Quem são esses povos milenarmente? Quais processos históricos, foram interrompidos quando da sua colonização? Quais valores da sua "antiguidade" foram mantidos mesmo após o seu lançamento na sociedade de modelo ocidental-capitalista? Como valores antigos destes povos, por mais que nos pareçam barbaros, convivem com esta sociedade mundialiazada sem aparentar pura e simplesmente barbarie? Esta barbarie pode trazer em si algum tipo de resistência agregada? E como neste contexto todo ,o Brasil ainda consegue vender a imagem de um paraíso das relações inter-raciais? Gostaria muito que vocês pensassem estas inquietações a partir dos elementos que vão estar vendo por aí nos próximos dias.

grande beijo- Pedrão

domingo, 22 de junho de 2008

O Carro-Catador Daqui




No primeiro dia aqui em Joburg, percorrendo o centro dentro de um carro - ninguém recomenda andar nestas áreas - vimos um menino a puxar um pequeno carrinho, algo semelhante aos nossos carrinhos de rolemã. Carregando pedaços de papelão, o menino disputava espaço entre os automóveis - toda a cidade é organizada em função dos automóveis. Mais adiante vimos novamente outra criança puxando o mesmo modelo de carrinho: base pequena, rodas de rolimã, sem laterais e com um arco de metal cromado como suporte para puxar.

No outro dia, caminhando no nosso "seguríssimo bairro" Melville, nos deparamos com um deste carrinhos encostado numa barraca de frutas. Conversando com o homem sentado ao lado da barraca, Philipe, confirmamos as impressões sobre este dispositivo. Realmente Este é o carro-catador daqui. Utilizado por crianças, o carrinho é usado para juntar materiais que podem ser vendidos em centro de Reciclagem. Supomos que este tamanho é adaptado à "força de tração" de crianças. Também seu tamanho parece ser condicionado pela disputa acirrada com os carros.

Creio que mais adiante vamos poder aprofundar esta pesquisa. O carro-catador continua a ser uma opção de suporte/tema/elemento para uma ação...

Ironicamente o carro-catador que encontramos carregava outro carro. Um carrinho de construção quebrado. Parecia ser o anuncio da superação de um pelo outro pela adapação.

Sinais e Suportes Públicos



Já neste primeiros dias em Joburg, temos uma atenção especial a estes suportes públicos para possíveis ações:
1. Os posters comerciais estão colocados em suportes específicos. Colados em papelão, são bem simples de colocar e retirar.
2. Os meio-fios são usados para escrever o nome da rua em letras stencil. Lembram da ação do GAC? "Quem lucra com estas mortes????"
3. Placas com sinais estranhos e enigmáticos - e olha que estamos dirigindo aqui! E do lado direito do carro!
4. Os jornais colocam suas manchetes em suportes públicos. Feitos em papel sulfite, ficam por um dia.
5. Mas também tem o improviso "escondidos" entre as placas do poste.





Dia 3 - Jacqueline

Dia 3 - Jacqueline





Dia 3 - Jacqueline






Jacqueline

Em busca de um chip para telefone móvel, criamos uma grande confusão nos caixas de um supermercado em Melville, “bairro nobre de Joanesburgo”.
Tem não tem. Ninguém sabe responder. Eis que surge a gerente das caixas, Miss Jacqueline Dube, uma senhora negra super solícita e se dispõe a resolver nosso problema.

- Where are you from?
- I’m from Brasil!!!!!
- Hou! You have to take me with you when you came back. [vocês tem que me levar com vocês na volta].

E com isto abrimos uma porta, a possibilidade de conhecer sua vida, sua casa, sua família. Pedimos, depois de toda a sua disponibilidade, se era possível gravar uma entrevista, conhecer sua casa. E ela logo concordou, mas indagou:

- Tem certeza que vocês querem ir na minha casa? Eu moro longe.

E diante da possibilidade de sair do cerco restrito que nos é aconselhado pelos nossos anfitriões, aceitamos de pronto. Então marcamos no dia seguinte, sábado as 13 horas, quando ela sairia do trabalho.

Nunca fomos tão britânicos... Chegamos com um carro alugado gentilmente pelo Goethe Institut e começamos nossa aventura de adentrar as townships. Cidades satélites criadas pelo governo no tempo do apartheid, zonas destinadas a moradia de blacks (nativos), colored (miscigenados) e emigrants; todos divididos em grupos específicos como zulus, khosas, indianos, etc.

Optamos por seguir o caminho mais demorado, mas para nós mais proveitoso, por dentro dos bairros. A vida como ela é na grande Joanesburgo. Lugares míticos como a township Soweto, os bairros de lata, hoje ocupados por imigrantes, grandes conjuntos habitacionais e, aos olhos, muita demanda social sem ser atendida.

Jacqueline foi mostrando todos os bairros até sua casa e a estória dos mesmos na sua vida, a transição do apartheid, o desemprego, a concorrência dos imigrantes, a insegurança, o presente e o futuro da sua família, o seu passado: uma África do Sul de ontem durante a falta de liberdade pelo Apartheid, tempo em que brancos e negros não podiam se misturar, época em que era proibido por lei o casamento inter-racial, época em que se aprendia em língua nativa na escola e em que o inglês só era falado quando se estava diante de brancos; hoje, uma África do Sul inserida no mundo, apanhando muito para resolver suas desigualdades raciais e sociais, a liberdade pós-apartheid e seu ônus; o futuro incerto e que leva tremer a voz da mãe de família...

Jacqueline, uma mulher Zulu, sul africana, casada, mãe de quarto filhos, avó de 2 netos, trabalhadora, que se avalia não pertencer à pequena classe média sul-africana, pois considera baixo o seu nível de educação, mesmo tendo acesso de bens como casa própria, carro, e uma infra-estrutura muito além da média do povo sul-africano.

“ I’m scare of the future. I won’t talk about it, because I’m so scared. I don’t know what will happen after Mbeki. With Mandela we were safe, with Mbeki... I don’t know what’s coming after him. We can see now this thing that’s coming up people from outside (...) We are safe? But the crime is so high! We are not safe anymore.” (Jacqueline)

“We grown up knowing that white is white, black is black. And we didn’t see, at that time, there was a problem...” (Jacqueline)

“Now is better because we are free. The problem is that we don’t get jobs” (Jacqueline)

Dia 1 - Imagens


Dia 1 - Imagens





DIA 1 - Bafana e Dorothy




Banafa

Sol raiando na terra do ouro, aeroporto em obras antecipam o tempo de copa do mundo, alfândega super tranqüila com os brasileiros chegando, no saguão aguardamos o carro do Goethe, e no meio de um ambiente com aspecto decadente sofrendo reformas, surge Bafana, um homem negro de meia idade, o encarregado de nos dar boas vindas e nos levar ao hotel.

Muito simpático, não se opôs a gravar uma entrevista enquanto dirigia a van do Goethe Institut, na rayways modernas e movimentadas. Joanesburgo aparece espalhada entre carros. Aproximadamente cinco milhões de habitantes na innercity.

Passamos por cima do centro, em viadutos complexos, onde Bafana ia indicando os marcos arquitetônicos: uma antiga estação de trem que hoje é o museu da África e faz parte de um complexo cultural implantado pelo departamento de cultura em uma área decadente em downtown. A prisão que Bantho Steve Biko foi morto. Um dos grandes lideres na luta pelo fim do apartheid.

Uma central de tv e radio concentra todas as emissoras. Uma central de mídia impressa concentra quase todos os jornais no bairro Melville, o espaço nobre e seguro de andar na rua onde fica nossa pousada.
Bafana deu seu relato sobre os conflitos que estão ocorrendo e foi categórico em afirmar que os imigrantes vem para tirar os empregos dos sul-africanos. Colocou também que em tempos de Apartheid as coisas pareciam melhores.

“ ... I would say it’s because these people from outside, they take jobs from our people...” (Bafana)

Dorothy


Nosso primeiro dia em Joanesburgo, e já começamos a trabalhar e estabelecer contatos com os artistas locais. Através do Goethe, fomos levados pelo João, que desempenha o papel de produtor local e não fala português não, ao limite Leste da Downtown, o centro de Joanesburgo.
Uma ocupação artística por um coletivo, em uma antiga fabrica. Vários lances de escada e chegamos ao um sofisticado loft, de muito bom gosto, ocupado por Dorothy, uma artista plástica sul africana branca, muito consciente sobre o que está acontecendo hoje em Joanesburgo.

Ela nos contou sobre a geografia da cidade, que é bem espalhada, da degradação do centro, área hoje ocupada essencialmente por imigrantes, onde a tensão é muito grande.
A fuga de milhares de imigrantes da cidade, na sua maioria do Zimbábue e Moçambique por conta dos conflitos de intolerância, muitos indo para delegacias no centro, outros campos de refugiados nos limites da cidade, outros sem saber para onde fugir.

A violência contra a mulher, sendo que hoje na África do Sul, o lugar no mundo onde mais acontecem estupros.

Ela descreveu que para o homem africano é quase um rito de passagem, fazer sexo a forca com uma jovem, que nas pequenas células familiares, não existe o pudor de se ter relação sexual diante dos filhos. Do mito que se tem quando um homem infectado com o vírus da Aids transar com uma jovem virgem ele se cura da doença. Loucura entender esta situação.
Ela também se dispôs a nos apresentar a alguns artistas que trabalham com o nosso foco de pesquisa.

Vamos nos encontrar ainda na mesma mesa do simpósio sobre arte publica, que acontecera nos próximos dias 23 e 24 de junho, promovido pelo Goethe Institut, e ficamos também de passear pelos bairros do centro, o bairro dos moçambicanos entre outros.

“ We have a lots of ‘no go areas. ‘No go corredors’, ‘no go passages’, no go zones’. Lots of ‘no gos’. Lots of ‘walls’. " (Dorothy)

Migrações Sul-Sul já são metade do total

Segunda-feira, 9 de Junho de 2008
Migrações Sul-Sul já são metade do total
Surgimento de ilhas de prosperidade em meio à miséria faz de países que antes eram escalas o destino final
SAMY ADGHIRNI

As recentes cenas de caça aos imigrantes na África do Sul jogaram luz sobre um fenômeno incontrolável e pouco estudado ainda: o das migrações entre países em desenvolvimento.
(...)

O estudo mostrou que esses fluxos aumentaram em 75% desde os anos 70, segundo estimativas que levaram em conta avaliações de organismos internacionais e dados colhidos em 56 países.
(...)

Mas o salto nas migrações Sul-Sul se deve principalmente à criação pela economia globalizada de ilhas de prosperidade em regiões miseráveis.
A violência antiimigrante das últimas semanas fez da África do Sul o exemplo mais eloqüente. Estima-se que pelo menos mil pessoas cruzem a cada dia as porosas fronteiras que separam o razoavelmente próspero país de seus vizinhos. A maior parte dos clandestinos é de zimbabuanos, alguns com diplomas universitários, que aceitam todo tipo de emprego, de guardador de carro a serviços domésticos.
Problema semelhante ocorre em países como Índia, Malásia e até mesmo Brasil, transformados pelo crescimento econômico em "eldorado" aos olhos dos vizinhos mais pobres.
(...)

fig 1.Infográfico Migrações Sul-Sul

Exército de reserva

Racismo quebra equilíbrio social na África, Itália e Israel

(...)
Exército de reserva


Na verdade, as manifestações racistas e xenofobas são o elemento determinante para iludir os setores pobres, apresentando o imigrante estrangeiro como o inimigo central. Desta forma, os governos evitam, com facilidade, o debate sobre o modelo de exploração da sociedade neoliberal e os motivos que colocam os trabalhadores pobres e desempregados nacionais contra os imigrantes, também pobres e desempregados.

Na verdade, o cerne do conflito é a redução do custo do trabalho no âmbito da globalização industrial. Por isso, o modelo neoliberal otimizou, do ponto de vista institucional os fluxos migratórios (oficial e clandestino) para rebaixar o custo de trabalho da mão-de-obra empregada e, assim, rentabilizar o crescimento industrial dos paises centrais e de alguns emergentes, como a África do Sul.
(...)

Por outro lado, o regime de exploração e o isolamento sócio-cultural faz com que grande parte dos trabalhadores imigrantes passem a ignorar os parâmetros sindicais, rompendo com a unidade de luta dos trabalhadores.
(...)

De fato, nos últimos anos, a principal tônica editorial de muitos tablóides populares europeus é a seguinte: ”Sem os imigrante, não haveria violência e degradação em nossas cidades!!!”.
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www.portalpopular.org.br
Achille Lollo

Confrontos na África do Sul não são xenófobos, diz especialista

31/05/2008 - 12h42
Confrontos na África do Sul não são xenófobos, diz especialista

A violência de sul-africanos contra imigrantes de outras partes da África --que teve início em 16 de maio e deixou ao menos 56 mortos-- não pode ser considerada xenofobia, na opinião da professora Leila Leite Hernandez, livre-docente em História da África e professora da faculdade de História da USP (Universidade de São Paulo).

Folha Online - Quando os zimbabuanos e moçambicanos começaram a migrar para a África do Sul?

Leila Leite Hernandez - A ida deles já vem de muitos séculos. Há deslocamentos nessa região desde antes do século 19, que são próprios dos povos dessa parte meridional da África. Esses deslocamentos se acentuam sobretudo com os trabalhadores de Moçambique -que ainda não eram moçambicanos porque o país não era independente-- a partir da descoberta das minas de ouro e diamante na África do Sul, que são próximas a essa área onde é o conflito hoje.
(...)

Folha Online - A violência contra os imigrantes já existia desde o início dos deslocamentos dos africanos?

Hernandez - Não. Esses conflitos são recentes e tem a ver com um conjunto de circunstâncias. Existe um encarecimento dos produtos básicos de alimentação e o processo de mundialização em curso acentua as desigualdades. As regiões que já são mais empobrecidas e que já tem questões alimentares sérias acabam tendo mais desafios pela própria sobrevivência.
(...)

Folha Online - Por que iniciaram os conflitos? Já que a imigração sempre ocorreu pacificamente...

Hernandez - Temos uma conjuntura internacional entre Zimbábue, Zâmbia, Moçambique e África do Sul. E temos também as questões internas a cada um desses países. A Zâmbia, assim como o Zimbábue, tem problemas seríssimos. Em Moçambique a situação é um pouco melhor, mas também há problemas. Todos esses países tem uma concentração precária de distribuição de renda. A situação também tem a ver com problemas internos à África do Sul. O país é a economia com os melhores índices da África meridional, mas tem por volta de 30% de desemprego, o que é elevado.

Em torno de Johannesburgo existiam as cidades para os negros viverem durante o apartheid, precárias em termos de energia elétrica, saneamento básico, saúde e educação [as aqui chamadas townships]. Já são locais com grande acúmulo urbano e ainda recebem os imigrantes. A África do Sul também tem uma das maiores taxas de migração do campo para a cidade. E essa população fica nas proximidades de Johannesburgo, com uma vida extremamente precária.
(...)

Folha Online - Então, a situação é mais uma rejeição à situação do que ao estrangeiro em si?

Hernandez - Exatamente. Em cada um dos lugares na África, as questões tem respostas específicas na economia. A taxa de desemprego, a taxa de inflação, a má distribuição da renda, as doenças e epidemias, sobretudo a Aids. É uma reação local à pobreza e é evidente que essas questões são apropriadas politicamente, de forma muitas vezes banalizada, reduzida a embates entre estrangeiros, quando a questão é muito mais profunda. Envolve, por exemplo, uma política trabalhista que não dá aos trabalhadores da África do Sul nenhuma proteção, o que, aliás, é uma tendência no novo modelo de mercado atual.
(...)

FERNANDA BARBOSA
Colaboração para a Folha Online

Photo from Getty Images by AFP/Getty Images

1 month ago: A child and a woman go past the dead body of a Malawian national on May 19, 2008 stabbed to death during xenophobic clashes in Reiger Park Township on the outskirt of Johannesburg. Xenophobic violence erupted in Alexandra township early last week as foreigners are accused by many South Africans of depriving locals of jobs and committing crime. Police said that the number dead had risen to 22 with more than 200 arrested. In Reiger Park, a slum area in the city's outlying East Rand, violence again erupted early on May 19 , with residents forced to flee as their homes were set alight, an.

Ataques violentos contra imigrantes na África do Sul

Quarta-feira, 28 de Maio de 2008
Ataques violentos contra imigrantes na África do Sul


Foram mortas pelo menos 32 pessoas em ataques violentos contra imigrantes na África do Sul. É referido que mais de 6000 pessoas procuraram abrigo em esquadras de polícia e igrejas.


Um homem foi queimado vivo e outros foram baleados, espancados e esfaqueados com machetes. Foram pilhadas e incendiadas lojas e habitações nas zonas operárias à volta de Joanesburgo, que é o centro financeiro da África do Sul.


Os ataques começaram há uma semana nas townships [bairros criados no tempo da segregação racial que eram destinados apenas aos 'não-brancos'] de Alexandra, no norte de Joanesburgo, e de Diepsloot, a sudoeste da cidade. Daí espalhou-se para Zandspruit, Tembisa, Primrose, Reiger Park e Thokoza.


A violência não chegou às primeiras páginas da imprensa estrangeira até ela se ter chegado até à zona de negócios, no centro da cidade, o que aconteceu no fim-de-semana. Aconteceram escaramuças junto à Igreja Central Metodista da Rua Pritchard, que se tornou casa para cerca de 1000 migrantes na sua maioria zimbabueanos.
(...)


Texto de Ann Talbot publicado a 21 de Maio de 2008 no World Socialist Web Site. Tradução de Alexandre Leite.

Milhares fogem de motins xenófobos em Joanesburgo

Terça-feira, 20 de Maio de 2008
Milhares fogem de motins xenófobos em Joanesburgo


A violência começou há uma semana, alastrou a vários bairros e fez 22 mortes, a maioria pessoas que fugiram à crise no Zimbabwe


Casas incendiadas, pessoas mortas à pancada, uma pelo menos queimada viva; multidões em fúria, de pedras e paus na mão; mulheres, homens e crianças a procurar refúgio em centros sociais, esquadras da polícia e igrejas; milhares de estrangeiros a fugir dentro da África do Sul depois de aqui terem procurado refúgio, fugidos do Zimbabwe. Serão seis mil pessoas em fuga, segundo a BBC on-line. A violência começou há uma semana no bairro de Alexandra, perto do centro de Joanesburgo, onde morreram duas pesssoas, mas estendeu-se no fim-de-semana a outros townships nos arredores da cidade. Apesar do forte dispositivo de segurança, os motins recomeçaram ontem às primeiras horas da manhã. O balanço avançado pela polícia era ontem de 22 mortes e 217 detenções. Os principais alvos da violência xenófoba dos gangs vivem nesses townships, subúrbios de Joanesburgo, e são os mais três milhões de zimbabweanos que emigraram para a África do Sul, muitos deles nos últimos anos para fugir à crise económica e política no seu país. Imigrantes de Moçambique e do Malawi também têm sido alvos.
(...)



http://jornal.publico.clix.pt


Fig. 1 – Imagem criada pela Frente 3 de Fevereiro para o catálogo da exposição “Trópicos”.
Fig. 2 – Catadores de reciclagem de São Paulo. Frente 3 de Fevereiro.

ESQUINA DE MUNDOS – Fronteiras Subjetivas

03 de Maio de 2008
ESQUINA DE MUNDOS – Fronteiras Subjetivas
Frente 3 de Fevereiro / Goethe Institut

A Frente 3 de Fevereiro pretende criar uma obra expositiva e uma apresentação audiovisual, através da troca e a reflexão de um território subjetivo, unindo três distintas realidades em três diferentes continentes: América Latina, África e Europa, simbolizados por três importantes metrópoles: São Paulo (Brasil); Berlim (Alemanha); e Johannesburg (África do Sul).


O grupo investigará dois níveis de relação política nestes diferentes lugares: a micro-política com a análise das particularidades da estrutura de cada cidade; e a macro-política com o olhar para as relações entre os três países.


Uma mesma ferramenta-conteúdo servirá, nos três lugares, como ponto de partida para uma análise das particularidades de cada contexto: o carro-catador.
Um receptáculo aberto, que pode ser preenchido pelas necessidades colocadas em cada cidade. Este ícone, em si, representa uma intervenção fora de seu contexto. Cultura popular, mercado informal, improviso, nomadismo marcam esta maneira de construir e negociar (informações, valores, produtos, identidades, etc.).

A circulação entre os territórios funciona como fator de ligação entre três cidades distintas; entre áreas diversas dentro de uma mesma cidade, potencializando o reconhecimento de geografias e arquiteturas de exclusão.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Boas viagens!!!!!!