sexta-feira, 4 de julho de 2008

A voz de Simon Njami


Uma pessoa se destacou no simpósio em Johannesburgo. Simon Njami, um homem negro, sempre de óculos escuros, roupas pretas e postura altiva. Sua fala seria apenas no segundo dia mas, poliglota, ele ajudava e corrigia traduções do francês, do inglês e até do português. Sua voz grave e pausada também se destacava. Quando Simon fala, todos prestam atenção. Entre nós brincávamos que ele tinha o tom de voz do Denzel Washington.

No dia seguinte, chegou sua vez. Finalmente, após uma série de depoimentos tediosos, que resumiam ‘arte pública’ à monumentos oficiais em ruas das cidades, Simon chacoalhou a todos. “Arte pública não é isso. Isso é imposição de burocratas e não serve ao público real”. Já tínhamos comentado a mesma coisa sobre o simpósio do dia anterior. Imediatamente após sua fala, fomos parabenizá-lo e lhe entregamos nosso livro e dvd. Comentamos com o responsável pelo evento, Peter Anders, que tínhamos nos identificado com a fala de Simon, mas não o conhecíamos. “Não conhecem o Simon? Ele é o mais importante curador de toda a África!”.

À tarde, apresentamos nosso filme. No debate após a exibição, vimos que Simon tinha gostado muito do nosso trabalho. Definiu nosso trabalho como ‘arte de guerrilha’ e novamente ajudou-nos nas traduções (diga-se de passagem, muito melhor do que nossa atrapalhada tradutora). Sucesso total.

À noite fomos a um bar comemorar. Quem estava lá? Ele mesmo, Simon. Sentamos à mesma mesa, junto com outros amigos de um coletivo de Cape Town. Ele realmente havia gostado do nosso trabalho e comentou vários trechos do filme. Nos usava como exemplo para instigar os rapazes sul-africanos. Pediu um CD de músicas da nossa Roberta – já é estrela na África. Comentou a presença marcante da nossa Mauri. Simon conhece todo mundo. De Solange Farkas e Alfons Hug, até Gil e os ‘Last Poets’. Já foi a todos os lugares. Perguntado se já tinha ido à Jamaica, ele respondeu: “A pergunta certa é ‘pra onde você não foi?’”. Simon será o curador da Trienal de Luanda em 2010. Falamos de vários assuntos, prometemos mantê-lo informado de nossas ações e a noite seguiu, até fecharmos o bar. No final, já após várias cervejas, revelamos a ele o que havíamos dito, entre nós, no simpósio:

“Você tem a entonação de voz do Denzel Washington!”

Mas Simon não deixou barato:

“Denzel é que tem a minha entonação de voz!”

...

O cara é um figura
Tem a arrogância dos que podem tê-la
E até zomba dela



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