domingo, 22 de junho de 2008

Dia 3 - Jacqueline






Jacqueline

Em busca de um chip para telefone móvel, criamos uma grande confusão nos caixas de um supermercado em Melville, “bairro nobre de Joanesburgo”.
Tem não tem. Ninguém sabe responder. Eis que surge a gerente das caixas, Miss Jacqueline Dube, uma senhora negra super solícita e se dispõe a resolver nosso problema.

- Where are you from?
- I’m from Brasil!!!!!
- Hou! You have to take me with you when you came back. [vocês tem que me levar com vocês na volta].

E com isto abrimos uma porta, a possibilidade de conhecer sua vida, sua casa, sua família. Pedimos, depois de toda a sua disponibilidade, se era possível gravar uma entrevista, conhecer sua casa. E ela logo concordou, mas indagou:

- Tem certeza que vocês querem ir na minha casa? Eu moro longe.

E diante da possibilidade de sair do cerco restrito que nos é aconselhado pelos nossos anfitriões, aceitamos de pronto. Então marcamos no dia seguinte, sábado as 13 horas, quando ela sairia do trabalho.

Nunca fomos tão britânicos... Chegamos com um carro alugado gentilmente pelo Goethe Institut e começamos nossa aventura de adentrar as townships. Cidades satélites criadas pelo governo no tempo do apartheid, zonas destinadas a moradia de blacks (nativos), colored (miscigenados) e emigrants; todos divididos em grupos específicos como zulus, khosas, indianos, etc.

Optamos por seguir o caminho mais demorado, mas para nós mais proveitoso, por dentro dos bairros. A vida como ela é na grande Joanesburgo. Lugares míticos como a township Soweto, os bairros de lata, hoje ocupados por imigrantes, grandes conjuntos habitacionais e, aos olhos, muita demanda social sem ser atendida.

Jacqueline foi mostrando todos os bairros até sua casa e a estória dos mesmos na sua vida, a transição do apartheid, o desemprego, a concorrência dos imigrantes, a insegurança, o presente e o futuro da sua família, o seu passado: uma África do Sul de ontem durante a falta de liberdade pelo Apartheid, tempo em que brancos e negros não podiam se misturar, época em que era proibido por lei o casamento inter-racial, época em que se aprendia em língua nativa na escola e em que o inglês só era falado quando se estava diante de brancos; hoje, uma África do Sul inserida no mundo, apanhando muito para resolver suas desigualdades raciais e sociais, a liberdade pós-apartheid e seu ônus; o futuro incerto e que leva tremer a voz da mãe de família...

Jacqueline, uma mulher Zulu, sul africana, casada, mãe de quarto filhos, avó de 2 netos, trabalhadora, que se avalia não pertencer à pequena classe média sul-africana, pois considera baixo o seu nível de educação, mesmo tendo acesso de bens como casa própria, carro, e uma infra-estrutura muito além da média do povo sul-africano.

“ I’m scare of the future. I won’t talk about it, because I’m so scared. I don’t know what will happen after Mbeki. With Mandela we were safe, with Mbeki... I don’t know what’s coming after him. We can see now this thing that’s coming up people from outside (...) We are safe? But the crime is so high! We are not safe anymore.” (Jacqueline)

“We grown up knowing that white is white, black is black. And we didn’t see, at that time, there was a problem...” (Jacqueline)

“Now is better because we are free. The problem is that we don’t get jobs” (Jacqueline)

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