quarta-feira, 25 de junho de 2008

Texto de Introdução da Exibição do "Zumbi Somos Nós" - Arte Pública como ativação da Vida Pública




Johannesburg, 24 de Junho de 2008

Aqui estão Fernando Coster, Julio Docjar, Maurinete Lima e eu, Daniel Lima, para apresentar o trabalho da Frente 3 de Fevereiro. Somos 4 de um grupo de 21 pessoas que trabalham com artes visuais, música, cinema, vídeo, teatro, geografia, antropologia, sociologia, direito e educação. Juntos no dedicamos a pesquisa, criação e reflexão em torno de questões raciais. Há quatro anos desenvolvemos trabalhos artísticos que usam diferentes linguagens e suportes passando por vídeo, texto, música e live performances.

Antes de continuar, gostaríamos de agradecer o convite do Goethe Institut e, principalmente, ao Peter pela oportunidade de estar aqui.

Propormos, neste encontro, uma reflexão conjunta. E, como ponto de partida, assumimos a linguagem audiovisual. Acreditamos ser esta a melhor maneira de mostrar o que somos e como pensamos Arte Pública. Por isso, propomos a exibição do filme “Zumbi Somos Nós” e na seqüência uma discussão.

Este filme tem 52 minutos. Agradecemos imensamente o tempo disponibilizado por todos aqui, num evento que tem o tempo tão limitado.

O filme foi feito entre 2004 e 2007. Fruto de um edital de uma emissora de televisão pública, o filme foi realizado juntamente com o livro “Zumbi Somos Nós – Cartografia do Racismo para o Jovem Urbano” num mesmo processo de pesquisa e criação. Dirigido por 20 integrantes, que na época compunham o grupo, o filme foi transmitido em cadeia televisiva nacional. Inscrito como documentário, hoje entendemos esta obra como um manifesto poético.

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Antes de iniciar, deixo uma breve reflexão sobre como entendemos Arte Pública.

Para nós, Arte Pública, significa ativação do espaço público. E o que é o espaço público numa cidade como São Paulo, onde mais de 18 milhões de habitantes vivem e trabalham? Nesta cidade, mais 70% do espaço urbano tem carência de algum tipo de infra-estrutura (água, esgoto, eletricidade, habitação, educação, transporte e lazer).

Koyo colocou, ontem, que no contexto de algumas cidades africanas o espaço público é do governo. Na realidade de muitas cidades brasileiras, o espaço público, em grande parte, é de ninguém.

Para lidar com esta realidade, esculturas e objetos de arte, em si mesmos, não têm a capacidade de gerar uma reorganização positiva em favor da apropriação do espaço público pelo indivíduo. Ou seja, monumentos públicos não tem condições no mundo contemporâneo de gerar movimentações de mudança na nossa forma de se relacionar com a cidade.

Podemos, a partir deste ponto, ir um pouco mais longe com o conceito de “espaço público” para um outro: “vida pública”. E para nós, “vida pública” significa uma noção ampla do que compõe o espaço de manifestações públicas. Neste campo, se constrói a imagem do que somos como sociedade. Assim entendido, este campo inclui o espaço público urbano, mas também, a mídia e seus diversos suportes, a reflexão acadêmica, a internet, e várias outras manifestações sociais.

Neste campo aberto/fechado da vida pública, para nós, o desafio é encontrar caminhos poéticos que possam gerar possibilidades de estabelecer novas formas de relação entre o indivíduo e sua própria representação.

Afinal, na auto-representação reside a possibilidade de resistência simbólica contra toda força violenta de construção de “mundos-desejos” e da vida “auto-confinada” que, em última instância, nos distancia da descoberta coletiva do que realmente somos como sociedade.

Frente 3 de Fevereiro

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